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Necessitamos em virtude de questões semânticas, aludirmos à expressão execução ao invés de carcerária. Naturalmente, podemos encontrar aqui ou acolá alguns condizentes ao argumento de ser o sistema de execuções brasileiro brando. Numa abordagem bem simplista, inclusive, grosseira; parte desta lógica de execução penal, ela está mais para um banimento do que para uma predisposição em ressocializar o paciente ou reeduca-lo, enviando-o para uma “cadeira do pensamento”.
Temos em O poço uma lógica experimental das condições adversas possíveis naquela estrutura de banimento. O personagem Trimagasi está dentro do poço por ter tido um acesso de raiva e jogado a própria TV pela janela, chegando a acertar um imigrante ilegal que passava. Temos em O poço uma comparação bem didática da gestão de alimentos dentro do sistema carcerário. Comer é uma analogia também ligada ao ato sexual. E antes de tudo é a maior exigência a ser saciada; a necessidade de alimentação é apenas o “óbvio”… Quem assistiu entenderá.
A representação dos privilégios no sistema carcerário brasileiros está nos andares do filme, desnudando o desnível da qualidade da alimentação; contrastando pelo rigor das Leis executórias, das assinaturas dos tratados, vindicando a validade e a extensão de direitos humanos e sua cobertura ao apenado; bem como, em nosso sistema carcerário torna-se inadmissível, principalmente, enquanto uns comem as primícias, outros comem os sobejos e as excreções de alguns. Não sendo admissível pelo glamour da preparação das guloseimas alimentares.
Podemos ainda vindicar a recomendação etária em 16 anos; porém, num dos andares do poço está uma criança. O que podemos por ilação, chegarmos à conclusão de que muitas crianças são levadas ao poço com a prisão de alguém, fazendo valer a frase de Trimagasi: “No poço existem as de cima, as de baixo e as que caem”.
Caetano Barata