A Longa Jornada da Tecnologia na Educação
As discussões sobre o uso da tecnologia na educação tiveram início há décadas, mas o avanço das tecnologias educativas nem sempre foi acompanhado por abordagens pedagógicas inovadoras. O professor Gilberto Santos, da Universidade de Brasília, destaca que, mesmo após 30 anos, o campo educacional ainda busca um norte pedagógico claro para orientar práticas inovadoras. A integração da tecnologia na educação exige uma mudança na forma de ensinar, uma adaptação que ainda não encontrou uma solução universal.
Além dos desafios pedagógicos, a infraestrutura e o acesso à tecnologia são obstáculos significativos. No final de 2022, dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) revelaram que milhares de escolas brasileiras carecem de acesso à internet e laboratórios de informática. Para os estudantes, a incorporação da tecnologia à educação é desejável, mas garantir o acesso universal é essencial.
A Política Nacional de Educação Digital (Pned)
No início deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.533/2023, instituindo a Pned. Esta política busca garantir o acesso de todas as populações, especialmente as mais vulneráveis, a recursos, ferramentas e práticas digitais. Com quatro eixos de atuação, a Pned coordenará programas e projetos em todo o país, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação por meio da tecnologia.
Entre as ações previstas, estão o treinamento em competências digitais, a conscientização sobre direitos de privacidade e a promoção da conectividade segura, especialmente para crianças e adolescentes. No entanto, a Pned não fornece um único caminho, já que diferentes realidades requerem abordagens distintas.
Experiências Estaduais: São Paulo e Paraná
No estado de São Paulo, a discussão sobre o uso de livros digitais em substituição aos impressos gerou controvérsias. O governador Tarcísio de Freitas inicialmente optou por não aderir ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), mas posteriormente reconsiderou a decisão. A questão ressalta a necessidade de ponderar o uso da tecnologia com as desigualdades nas redes de ensino.
No Paraná, o uso de plataformas digitais na educação foi intensificado durante a pandemia e se mantém mesmo com o retorno das aulas presenciais. No entanto, o excesso de plataformas e metas de uso estão sobrecarregando os educadores e impactando sua saúde física e mental. A pesquisa Plataformização da Educação revela que a maioria dos educadores acredita que as plataformas deveriam ser de uso opcional, não obrigatório.
Para os estudantes, o uso massivo das plataformas não melhorou a qualidade do ensino. Eles destacam que a tecnologia não substitui a presença do professor nem o convívio social nas escolas.
O Uso Responsável da Tecnologia na Educação
O relatório da Unesco ressalta que o uso excessivo e não pedagógico da tecnologia pode prejudicar o aprendizado dos estudantes. Portanto, é crucial que a tecnologia seja integrada de forma adequada e que não substitua elementos essenciais da educação, como a leitura e o convívio social.
A desigualdade no acesso à tecnologia é um desafio global, e muitos países estão buscando soluções que se adequem às suas realidades. No Brasil, a tecnologia deve ser vista como uma aliada na educação, mas deve ser implementada com responsabilidade, considerando as diferenças regionais e garantindo que todos os alunos tenham acesso igualitário a essa ferramenta.
A integração da tecnologia na educação é um desafio complexo, mas com políticas públicas bem planejadas e uma abordagem cuidadosa, é possível preparar os estudantes para um mundo cada vez mais tecnológico, mantendo a qualidade da educação e a equidade no acesso.