SALVADOR/Bahia - A escritora Bárbara Carine, autora do livro "Como Ser um Educador Antirracista", levanta um importante questionamento sobre a representatividade nos livros didáticos. Ela questiona por que, mesmo considerando que a história das pessoas pretas tenha começado há quase 350 mil anos, os livros didáticos costumam abordar apenas os últimos quatro séculos.
Carine, que é finalista do prêmio Jabuti nas edições de 2021 e 2022, critica o ensino eurocêntrico que ignora ou estereotipa os registros dos saberes das sociedades africanas e ameríndias. Ela ressalta a importância de abordar temas como a branquitude e o racismo na sociedade brasileira.
O objetivo de Carine, evidentemente, é apresentar a riqueza das culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas antes que o racismo se instale na percepção de mundo dos estudantes. Ela destaca a importância de os adolescentes e crianças, que já foram expostos às dores causadas pelo racismo, aprenderem a refutar essas práticas e construírem novas possibilidades de futuro. Para isso, além de abordar o contexto socioeconômico da população negra, a autora enfatiza a importância de estabelecer conexões com a atualidade, explicando, por exemplo, a origem do preconceito contra as religiões de matriz africana.
Segundo Carine, ter orgulho da ancestralidade negra e entender que o conhecimento não é exclusivamente europeu reflete na construção subjetiva dos jovens e estimula seu pensamento crítico. A escritora destaca que o educador antirracista é uma pessoa consciente de si, que compreende a necessidade de enfrentar o racismo em suas bases, incluindo os privilégios da branquitude. Ela ressalta que, ao abordar conteúdos relacionados às relações étnico-raciais, é importante incluir também o papel das pessoas brancas, já que o antirracismo existe para combater um preconceito criado por elas.
Apesar de alguns avanços, como a lei 10.639 que inclui o ensino de história africana e afro-brasileira nas diretrizes da educação nacional há 20 anos, Carine ressalta que ainda há uma baixa adesão à implementação dessa lei. De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Alana e pelo Geledés Instituto da Mulher Negra em 2022, apenas 29% das secretarias municipais de educação possuem ações consistentes para garantir a implementação da lei.
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Caetano Barata