Escritora Bárbara Carine destaca a ausência de representatividade nos livros didáticos e questiona o foco exclusivo no corpo branco

Autora de "Como Ser um Educador Antirracista" propõe mudanças para ampliar a visão histórica e combater o preconceito racial nas escolas

Por Caetano Barata em 03/07/2023 às 23:44:32

SALVADOR/Bahia - A escritora Bárbara Carine, autora do livro "Como Ser um Educador Antirracista", levanta um importante questionamento sobre a representatividade nos livros didáticos. Ela questiona por que, mesmo considerando que a história das pessoas pretas tenha começado há quase 350 mil anos, os livros didáticos costumam abordar apenas os últimos quatro séculos.

Carine, que é finalista do prêmio Jabuti nas edições de 2021 e 2022, critica o ensino eurocêntrico que ignora ou estereotipa os registros dos saberes das sociedades africanas e ameríndias. Ela ressalta a importância de abordar temas como a branquitude e o racismo na sociedade brasileira.

A escritora argumenta que existe uma intencionalidade informativa na construção de um imaginário que retrata apenas o corpo humano como branco nos livros didáticos, e que essa representação limitada não se deve à falta de recursos para ilustrações, e sim, àquela intencionalidade. Ela defende uma posição ativa no ensino, buscando mitigar os efeitos do preconceito racial e construir novas referências de conhecimento.

O objetivo de Carine, evidentemente, é apresentar a riqueza das culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas antes que o racismo se instale na percepção de mundo dos estudantes. Ela destaca a importância de os adolescentes e crianças, que já foram expostos às dores causadas pelo racismo, aprenderem a refutar essas práticas e construírem novas possibilidades de futuro. Para isso, além de abordar o contexto socioeconômico da população negra, a autora enfatiza a importância de estabelecer conexões com a atualidade, explicando, por exemplo, a origem do preconceito contra as religiões de matriz africana.

Segundo Carine, ter orgulho da ancestralidade negra e entender que o conhecimento não é exclusivamente europeu reflete na construção subjetiva dos jovens e estimula seu pensamento crítico. A escritora destaca que o educador antirracista é uma pessoa consciente de si, que compreende a necessidade de enfrentar o racismo em suas bases, incluindo os privilégios da branquitude. Ela ressalta que, ao abordar conteúdos relacionados às relações étnico-raciais, é importante incluir também o papel das pessoas brancas, já que o antirracismo existe para combater um preconceito criado por elas.

A trajetória de Bárbara Carine começou com o questionamento da ausência de pessoas negras nos ambientes educacionais enquanto estudava química na Universidade Federal da Bahia. Essa inquietação a levou a idealizar a Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, em Salvador, que constrói todo o currículo a partir da dinâmica das relações étnico-raciais. Carine compartilha sua experiência com a organização e formação de professores na escola ao longo do livro.

Apesar de alguns avanços, como a lei 10.639 que inclui o ensino de história africana e afro-brasileira nas diretrizes da educação nacional há 20 anos, Carine ressalta que ainda há uma baixa adesão à implementação dessa lei. De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Alana e pelo Geledés Instituto da Mulher Negra em 2022, apenas 29% das secretarias municipais de educação possuem ações consistentes para garantir a implementação da lei.

O livro "Como Ser um Educador Antirracista" de Bárbara Carine, com 160 páginas, está disponível por R$ 49,90, e aborda de forma inteligente e atual, a importância de abordar as relações étnico-raciais nas escolas e oferece orientações para os educadores se tornarem agentes de transformação nesse sentido.


Link: https://www.planetadelivros.com.br/livro-como-ser-um-educador-antirracista/375332


Caetano Barata

Graduado em Direito FBB – Faculdade Batista Brasileira, Licenciado em Pedagogia/UNIME; ativista cultural em Simões Filho, membro do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial da cidade de Simões Filho. Membro do grupo de pesquisa UFBA PDRR - LITERATURA, DIREITO E RELAÇÕES RACIAIS 2022.2.

Ex-Conselheiro do CEPA – Círculo de Estudo, Pensamento e Ação.
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